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Filosofia e Chaves: Tinha que ser o Diógenes mesmo!

Mario Sergio Cortella AET - reprodução Band - Vizinhança do Chaves 02Mario Sergio Cortella, filósofo brasileiro, mestre e doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde também é professor-titular do Departamento de Teologia e Ciência da Religião e da pós-graduação em Educação, além de professor-convidado da Fundação Dom Cabral e do GVpec da FGV-SP [1] participou dia 23/04/2013 do programa “Agora é Tarde” (Band), e parte da entrevista conduzida por Danilo Gentili tratou sobre um curioso tema envolvendo o assunto de nosso blog (Chaves). Fazendo uma rápida pesquisa pela internet, vi que o assunto já havia saído à tona anos atrás pela rede, mas enfim, quero que o Vizinhança do Chaves também tenha um artigo sobre esta comparação tão interessante.

Mario Sergio Cortella AET - reprodução Band - Vizinhança do Chaves 01

Aos fãs mais exaltados, já começo falando que de modo algum podemos afirmar que Chespirito se baseou no filósofo que citaremos mais adiante para criar o personagem Chaves, muito menos que o mesmo não é criativo ou algo do tipo. Muito pelo contrário, caso este filósofo cínico inspirou Chespirito, este é mais um item de seu imenso repertório. Se uma coisa não tem nada a ver com a outra, ainda assim a comparação mantêm-se interessantíssima e digna de ser discutida.

Mario Sergio Cortella AET - reprodução Band - Vizinhança do Chaves 04

Cortella apresentou durante sua entrevista seu novo livro: “Não se desespere“, que contém 31 provocações filosóficas sobre vida, morte, religião, ética, política, formação de crianças e outros assuntos. Folheando o livro, Danilo caiu logo numa página que chamou sua atenção, visto como o mesmo é fã declarado de Chespirito: “Eu tô vendo aqui no seu livro, já tem uma frase que todo mundo, todos os jovens vão conhecer, que é ‘Foi sem querer querendo’, que é uma frase bem ‘chaviniana’”, disse o ex-repórter inexperiente do CQC. Em seguida, perguntou ao filósofo: “Em que contexto esta frase está no livro?

Confira a resposta dada por Mario Sergio Cortella: “No contexto da discussão sobre ética. Você tem que lembrar que o Chaves, o personagem da TV, ele é alguém que se inspirou num pensador clássico chamado Diógenes. Diógenes foi um filósofo grego pós-socrático que morava num barril. Tal como Sócrates viveu solto na praça, discutindo, e o Chaves mora num barril, Diógenes, que era um alguém da escola cínica na Filosofia, morava num barril e vivia nu. Aliás, porque ele não tinha propriedade alguma pra não ser propriedade de nada. Se você já observou na série “Chaves”, ninguém tem animal de estimação naquela vilinha, porque o único ser ali que é um animal de estimação é o próprio Chaves. Segundo, é o único que é livre, o único que pode dizer o que quer, ele não tem nada a perder. E essa frase “foi sem querer querendo” é uma frase cínica (…), se diria que alguém é cínico quando ele vive como um cão – solto por aí. E o Chaves, com o qual você brincou com o “sem querer querendo”, é alguém que vive como um cão naquele lugar. Mas repito: é o único que é livre. Nesse ponto de vista ele é admirável“. [2]

E quem foi Diógenes? O mesmo é “assinalado, em muitas histórias da filosofia, como o filósofo que desprezou ostensivamente os poderosos e as convenções sociais. Nasceu em Sínope. Foi discípulo de Antístenes (c.444-365 a.C.), fundador da filosofia cínica (…). Levando ao extremo esta atitude de desprezo pelas convenções sociais, Diógenes tinha como casa um barril e vestia-se de trapos. Deambulava pela cidade com um lamparina acesa, mesmo de dia, afirmando a quem o interrogava que procurava “um verdadeiro homem”. Aquele que vivia de acordo com a natureza.” [3].

Para situar o leitor, “cinismo é considerado como escola filosófica e não por ser constituído por uma doutrina sistemática, mas pela opção de um modo de vida que se manifestava contra as transformações ocorridas na Grécia no período do domínio macedônico. Não se tem certeza sobre quem fundou o cinismo, Diógenes certamente foi sua figura mais marcante. Seu estilo de vida opõe-se tanto ao dos não filósofos quanto ao dos filósofos. O cínico rejeita o modo de vida que se baseia na investigação científica, bem como também aquilo que os homens em geral consideram indispensável: as regras, a vida em sociedade, a propriedade, o governo, a política, etc.” [4]

Os cínicos “desprezam o dinheiro, mendigam, não querem posição estável na vida, não têm cidade, nem casa, nem pátria; são miseráveis, errantes, vivem o dia a dia. Têm somente o necessário para sua sobrevivência. A filosofia cínica é unicamente uma escolha de vida, a escolha da liberdade total e absoluta ou da independência das necessidades inúteis, da recusa ao luxo e da vaidade presentes na vida social.” [4]

Mario Sergio Cortella AET - reprodução Band - Vizinhança do Chaves 03

Danilo Gentili ficou impressionado com a comparação e indagou: “Que demais, que demais. E quando você escreveu “sem querer querendo” aqui no seu livro você pensou no Chaves mesmo ou só na frase cínica?“.

A resposta de Mario Sergio Cortella: “Sem dúvida. Inclusive porque pro cinismo você pode olhar no Chaves. Pra ensinar Filosofia você tem que partir da realidade das pessoas – e eu posso discutir a escola cínica inclusive falando do Chaves (…) A Filosofia não pode ser colocada como uma coisa inatingível, claro que não posso fazer um pensamento raso, banal, superficial, mas não posso também deixar de criar pontes com o jovem hoje, por isso, sim, pensei no Chaves!“.

Mario Sergio Cortella AET - reprodução Band - Vizinhança do Chaves 02

Está correto o leitor atento que falar que o Chaves não mora num barril, e sim na casa número 8, contudo, ele passa a maior parte de seu dia dentro do barril, e nisso a comparação de desprezo ao luxo e às convenções sociais já é evidente. Chaves, assim como Diógenes, também se vestia com trapos. Chaves já trabalhou, mas nunca teve uma busca incessante por dinheiro, e seus brinquedos eram confeccionados por ele mesmo. Ele levava a vida com o que tinha, e assim era feliz.

Além disso, Mario Sergio não citou os animais da vila: Madruguinha, Peludinho, Soriano, Satanás etc. Contudo, eles não eram animas de estimação em caráter definitivo, e sim, apareceram em apenas alguns episódios. Sendo assim a comparação também foi válida.

Outro ponto que podemos comentar, segundo o blog Chaves e a Filosofia, é que “A vida do Cínico para Diógenes se baseava sobre o exercício e sobre a fadiga, considerados como instrumentos necessários para viver feliz, para saber dominar todos os prazeres e para alcançar a plena liberdade. Ou seja, a doutrina cínica era “antiJaimista” promovendo a fadiga e não evitando-a como faz (tenta) o nobre carteiro.” [5].

Sendo coincidência ou não, Diógenes e Chaves nos fazem refletir que, num tempo em que um véu pérfido impede-nos de conhecer a verdadeira natureza humana, corrompendo os costumes, como diria Rousseau, a felicidade pode ser encontrada em aspectos ligados à natureza, longe do luxo, onde valores como a amizade devem ser cultuados.

Fica exposto aqui também a imensa qualidade das obras de Chespirito, da qual se pode fazer inúmeras reflexões.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Sergio_Cortella

[2] Transcrição de trecho do programa “Agora é Tarde” (Band) – 23/04/13

[3] http://afilosofia.no.sapo.pt/10diogenes.htm

[4] Por João Francisco P. Cabral, via http://www.brasilescola.com/filosofia/cinismo.htm

 [5] http://chaveseafilosofia.blogspot.com.br/2008/12/digenes-e-chaves-vida-de-co-e-peludinho.html

Por Victor235.

Imagens: reprodução.

11 Comentários

  1. VINICH PEREIRA

    NUM ENTENDI NADA

  2. Henrique

    Gostei do post… continue assim ^^

    • victor235

      Obrigado =]

  3. Opa (!) valeu pela referência ao meu blog Chaves e a filosofia, a ideia do Cortela vai bem de encontro com o blog de incluir a filosofia na vida , sem isola-la numa torre de marfim. Depois de tantos e a filosofia “Chaves” não podia ficar de fora. Quanto mais divulgação melhor de repente vira livro tb e zás rs. Bom saber dessa entrevista , vou dar um jeito de assistir. Parabéns pelo blog, abraço.
    ps- se tiver sugestões de posts tamo ae (!)

    • victor235

      Obrigado, parabéns pelo seu blog também. Muito interessante para mim que sou chavesmaníaco e curso Ciências Sociais.

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