.: Vizinhança do Chaves :. DEFINITIVAMENTE CHESPIRITO. Chaves e Chapolin

O portal sobre Chespirito mais atualizado do Brasil

Conversas Furtadas #05: Televisa, a potência mexicana

Fonte: Reprodução

Fonte: Reprodução

As maldades de Paola Bracho em “A Usurpadora”, o chafariz de lágrimas da Thalía nas inúmeras Marias e os alunos da Escola Mundial em “Carrossel” cativaram inúmeros brasileiros. “Chaves” e “Chapolin“, então, nem se fala… Mas, de onde veio esse sucesso, que consegue desbancar as produções milionárias da Rede Globo? Entenda o que é a Televisa, esse complexo mexicano de televisão que todo dia aparece aí, na sua telinha.

A Globo é uma rede de televisão que segue o conceito network, ou seja, uma matriz retransmite o seu conteúdo para as afiliadas em todo o país. No caso da Televisa, não é bem assim. A legislação mexicana permite que um grupo de comunicação tenha mais de um canal na mesma cidade, o que não é permitido na legislação brasileira desde os anos 80 (é por isso que Silvio Santos precisou vender suas ações na Record, pois já tinha o controle do SBT).

O Grupo Televisa controla quatro canais nacionais, todos com sede na Cidade do México: Canal de Las Estrellas, Canal 5, Gala TV e Foro TV. Essas “redes” compõe o complexo Televisa de TV. Nem sempre foi assim. O primeiro canal de televisão do México foi o Canal 4, XHTV-TV, hoje Foro TV. As emissoras eram chamadas pelo prefixo na época; a TV Tupi de São Paulo, por exemplo, era a PRF-3.

O começo de tudo

telesistema-mexicano

Fonte: Reprodução

Emílio Azcárraga Vidauretta ascendia cada vez mais no ramo das comunicações. Em 1955, já existiam três canais: XEW-TV (Canal 2), XHTV-TV (Canal 4) e a XHGC-TV (Canal 5). Ele propôs uma rede de televisão que englobasse os três canais. Nascia o embrião da Televisa: o Telesistema Mexicano, fundado em 26 de março de 1955.

Uma curiosidade: o México coloriu sua televisão muito antes do Brasil. Lá, o sistema utilizado era o americano NTSC. Já no Brasil, foi criado um modelo híbrido, que somava o padrão PAL mais o padrão M dos televisores em preto-e-branco, surgindo o PAL-M, utilizado apenas por nós, brazucas.

O primeiro programa colorido do México foi transmitido pela XHGC-TV, em 1963. Somente nove anos depois as cores viriam para a televisão brasileira, em 1972.

Voltando ao México… Para abrigar as produções do Telesistema Mexicano, foi construído o majestoso Televicentro, complexo de televisão que reuniu todas as emissoras em um mesmo espaço.

Essa sede começou a ser construída em 1943 e inicialmente iria abrigar os estúdios da rádio XEW com o nome “Radiopolis”. O advento da televisão no país mudou o foco do espaço que acabou destinado ao novo veículo.

O Brasil assistiu a disputa entre Globo e SBT durante os anos 80, o sucesso de novelas da Rede Manchete no começo dos anos 90 e a ascensão da Rede Record nos anos 2000.

Surge, no final dos anos 60, um concorrente: a TV-TIM (Televisão Independente do México), Canal 8, que apresentava produções populares, telenovelas e programas de auditório, tendo bastante êxito. Nessa emissora, surge a obra de Roberto Gómez Bolaños, com os “Supergenios de La Mesa Cuadrada”.

Nasce um gigante

Emílio Azcárraga Milmo assume o poder do Telesistema Mexicano após a morte de Vidauretta, em 1973. Mais uma fusão é realizada e agora os canais 2, 4, 5 e 8 são a Televisa, que significa Televisión Via Satélite.

As produções de Bolaños passam para o Canal 2. Curiosamente, “El Chavo Del Ocho” não mudou de nome. O “Ocho” originalmente se referia ao canal que era transmitido. Chespirito não quis mudar o nome para “El Chavo Del Dos” e preferiu inventar o misterioso apartamento nº 8. De qualquer forma, a partir de 1976 o programa passou a ser chamado apenas de “El Chavo”.

Cid Moreira lia o noticiário do Jornal Nacional. Seu equivalente mexicano era Jacobo Zabludovsky, apresentava o telejornal “24 Horas”, transmitido entre 1970 e 1998, sempre sob o comando de Zabludovsky. Lembra da “Dança das Horas” que Chaves se refere no episódio “A Bandinha”? Era uma referência ao prestigiado jornalístico.

(Curiosamente, o Jornal Nacional e o 24 Horas tinham o mesmo tema musical: The Fuzz, de Frank de Vol)

Graças ao enorme sucesso no México, o primeiro produto da Televisa a ser exportado foi “Chaves” e em seguida, “Chapolin”. E assim, abriram caminho para as novelas que fizeram tanto sucesso. No Brasil, o caminho foi o inverso.

“Os ricos também choram” foi à primeira novela mexicana exibida no Brasil, em 1982. Em um primeiro momento, a produção pobríssima chocou os telespectadores, acostumados ao padrão Globo de qualidade. Mas o sucesso foi inevitável. A pobre selvagem interpretada por Veronica Castro cativou rapidamente os brasileiros.

O estilo de novelas da Televisa era completamente diferente do padrão global. Ao invés dos cenários paradisíacos do Rio de Janeiro, as externas eram escassas. Os atores pouco saiam do estúdio. Os atores mexicanos usam ponto eletrônico – uma exigência do Sindicato de Atores – e esse é o motivo de algumas interpretações soarem forçadas aos nossos olhos.

A atriz Susana Vieira teve problemas quando fez novelas na Televisa, afinal, preferia decorar os textos ao invés de recebê-los via ponto. Como são muitos canais e muitas produções, o ponto acelera a produção de novelas – por isso também que lá as novelas são mais curtas (a maioria não passa de 120 capítulos); as novelas da Rede Globo chegam a ter mais de 200 capítulos.

Curiosidade: Chespirito se negava a usar o ponto e os atores precisavam decorar os roteiros e segui-los a risca. Era uma exceção.

A Televisa hoje

Na década de 90, a Televisa abriu seu capital e entrou na bolsa de valores de Nova Iorque, o que é proibido aqui. Seus negócios não se resumem apenas ao meio televisivo, são muitos. É até difícil de comparar com o Brasil, pois nem o Grupo Globo ou a Abril tem o poder que a Televisa possui no México.

O meio impresso tem espaço com a Editorial Televisa. A Ánima Estudios – produtora do Chaves animado – também faz parte do grupo. Na internet, existe o portal Esmas. O Grupo Televisa tem 70% de participação  na Univisón, um canal hispânico transmitido nos Estados Unidos para o público latino.

Acevedo-300x173

Univisión: a Televisa presente também nos Estados Unidos. – Fonte: Reprodução

► 258 emissoras compõem a rede Televisa em todo o território mexicano. É um número gigantesco ao compararmos com a Rede Globo, que tem 152 emissoras próprias e afiliadas.

Roberto Gómez Bolaños já comandou a Televicine (hoje Videocine), uma ramificação do Grupo Televisa na área cinematográfica. Ele dirigiu a empresa após o término do programa Chespirito, entre 1995 e 1998.

► O símbolo da Televisa representa o olho de um homem que vê o mundo através da TV. Foi criado pelo arquiteto Pedro Ramirez Vásquez em 1973.

► Necaxa, América e San Luís são os times administrados pelo Grupo Televisa, que também é dono do Estádio Azteca (do América), onde Chespirito foi velado.

622525-estadio_azteca

O Estádio Azteca é a sede do América. – Fonte: Reprodução

Vemos, durante esse texto, que a Televisa não é apenas mais uma no ramo. É uma verdadeira multinacional, produz muito e exporta muito. O povo mexicano é querido em todo o mundo graças aos produtos da emissora. No entanto, o poder da mídia no México impressiona. É muito maior que no Brasil. A Televisa é uma grande fábrica de sonhos, isso é um fato incontestável.

Por Seu Furtado

Fontes:

Site oficial da Televisa

Wikipédia em língua espanhola

Tinha que ser o Chaves, por Igor C. Barros

4 Comentários

  1. victor235

    Excelente, um bom trabalho jornalístico. Desconhecia curiosidades como a do ponto eletrônico e a de Chespirito ter dirigido esta empresa Televicine. Parabéns pela coluna.

  2. Carey Mahoney

    A maioria do que li ainda não sabia. Ótimo texto e coluna, parabéns.

Trackbacks

  1. RETROSPECTIVA CH 2015: Fevereiro | .: Vizinhança do Chaves :. DEFINITIVAMENTE CHESPIRITO. Chaves e Chapolin
  2. Enrique Segoviano, diretor de “Chaves” e “Chapolin”, é demitido da Televisa após mais de 50 anos de serviços | .: Vizinhança do Chaves :. DEFINITIVAMENTE CHESPIRITO. Chaves e Chapolin

Deixe um comentário